sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Via Láctea - Olavo Bilac


“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso”! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

sábado, 23 de outubro de 2010

O que é meu em mim

Eu sou cada texto que li, cada palavra que aprendi, cada gesto que imitei. Eu sou tudo a minha volta, sou todos com quem convivo ou convivi, sou uma junção de tudo o que existe. Existe algo de mim em mim? Não sei.
A essa altura da minha vida, no ponto em que cheguei, não sei mais distinguir o que é meu do que não é, o biológico do absorvido, o aprendido do inventado.
Não fui eu quem formou minha identidade e sim cada pessoa que passou pela minha vida, cada uma delas depositou em mim um pedaço de si; o que fiz foi misturar tudo, todos aqueles resquícios de identidade e formar uma própria, que passei a chamar de minha.
O que mais quero no momento, é saber ao certo o que me foi dado, separar o sal do açúcar, a água do álcool. Preciso muito saber o que seria de mim se alguma daquelas pessoas não tivesse passado pela minha vida, se não tivesse deixado uma parte de si, ou ainda, se ao invés dessa pessoa houvesse outra, totalmente diferente.
            O que eu seria se não fosse o que sou agora, será que ao menos seria alguém? Será que ao menos escreveria sobre tais indagações? Se for uma junção de tudo e todos, será que existo? Posso não passar de “alguéns”, e nesse caso, não sei bem o que pensar, muito menos o que fazer.
            Não me vejo mais em mim. Não encontro nada quando me busco. Meu reflexo já não é tão nítido. Minhas memórias já não são tão minhas. O que escrevo já foi escrito. O que falo já foi dito. Subtraem-se tudo e o que sobra? ... Não sei.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Transformando tédio em saudade

     Tédio. Entedia. Tédio sem idéias. Ideais mortos. Mente sombria. Escuridão à luz do sol. Macabro e colorido. Destino interrompido pelo Jingle Bell da solidão.
     Obscuridade oportuna de uma vida sem resquícios de viver. Corações entrelaçados. Fígados embriagados no silêncio sem solução.
     Respiração descompassada, inalando toda a poeira, limpando todo o ar. Morrendo de prazer por ter vivido uma vida, por ter tido a oportunidade de receber a medalha da humildade, mas que nada vale.
     Erra em se perder, em encontrar-se de novo. Erra em acertar mais de uma vez, e por se repetir se emociona.
     Palavras sem nexo escritas em um espelho convexo, que abre a porta logo antes de sair, mas deixa aberta para poder voltar.
     A despedida consome o eu de saudade, para em seguida dançar a “dança da solidão”.
     Corrompemos o incorruptível, que se desfez na ânsia pelo poder, no desejo de ser igual e acabar com as idéias que nunca estiveram vivas.
     E o que é vivo sempre morre.
     E o que é morto fica podre, até não mais existir.

Only Juliet


    
     Que dor é maior? A dor de um amor correspondido, vivido, que durará para sempre, mas que lhe é tomado subitamente? Ou a dor de um amor não correspondido, que nem teve a oportunidade de ser vivido, que dói a cada segundo que é sentido, mas que não consegue ser arrancado de dentro de você?
    
Obs.: Minha intenção não é comparar a dor, mas mostrar que não senti-la é uma condição talvez não existente. Tendo em vista que, ao fato de senti-la, não quero dizer incessantemente, mas por várias vezes e de várias formas ao longo da vida.


Sugestão: Filme "Shakespeare Apaixonado"

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A droga do amor

     
      E quando penso que acabou só está começando. O início do que durará para sempre e depois morrerá. Acreditando-se que o infinito é apenas aonde não se conseguiu chegar.
     Forma-se um plural de singulares, e abro a porta na tua cara apenas para dizer-te que ainda não terminou. Pelo menos enquanto posso inspirar para fora e expirar para dentro o único veneno que me mata, a droga que viciou minha circulação e inebriou-me de incertezas. A droga que vicia somente aos que tem coração. A droga do amor.
     Que me fez agir e não pensar, que me fez falar e não lembrar, que me fez morrer e ainda assim... Estando viva.

domingo, 3 de outubro de 2010

Música Popular Brasileira - Gonzaguinha

     Característico pela postura de crítica à ditadura, submeteu-se ao DOPS, assim, das 72 canções mostradas, 54 foram censuradas, entre as quais o primeiro sucesso, Comportamento Geral. Neste início de carreira, a apresentação agressiva e pouco agradável aos olhos da mídia lhe valeram o apelido de "cantor rancor", com canções ásperas, como Piada infeliz e Erva. Com o começo da abertura política, na segunda metade da década de 1970, começou a modificar o discurso e a compor músicas de tom mais aprazível para o público da época, como Começaria tudo outra vez, Explode Coração e Grito de alerta, e também temas de reggae, como O que é o que é' e Nem o pobre nem o rei. [1]

"A música não faz a revolução, nosso poder  é o de encantar, informar, alegrar, e, em determinados momentos, formar. Podemos fazer política sem ser políticos. Mas não somos donos do país, somos regidos por um sistema, de acordo com ele ou não" (Gonzaguinha, em 1978)

Comportamento Geral
Gonzaguinha
Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com teu Carnaval

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com teu Carnaval

Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com teu Carnaval

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com teu Carnaval?

Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal

E um Fuscão no juízo final
Você merece, você merece

E diploma de bem comportado
Você merece, você merece

Esqueça que está desempregado
Você merece, você merece

Tudo vai bem, tudo legal [2]

“Sei que jamais vou agradar a todos. Mais quero é me agradar, me sentir muito bem, sabendo que nunca vou ser o que os outros querem”. (Gonzaguinha)
     Luiz Gonzaga Júnior faleceu na manhã do dia 29 de abril de 1991 em um acidente de carro ocorrido no quilômetro 30 da BR-280, entre os municípios de Renascença e marmeleiro, na região sudoeste do Paraná.
“Gonzaguinha era um poeta contemporâneo, que abordava a alma feminina de uma forma completa. Através da palavra, desnudava o universo da mulher. Ele tinha a sensibilidade à flor da pele. Na minha obra é de extrema importância.” (Joanna)
"Uma coisa eu aprendi pelas estradas por onde eu andei, e que eu sei que vou levar para estradas por onde eu vou andar. Eu aprendi que é fundamental que eu tenha respeito pela minha pessoa, pra que eu possa evidentemente passar esse respeito para outras pessoas. Porque não há uma coisa "mais maior de grande" do que a pessoa e porque somente juntos, somente unidos, é que nós vamos conseguir uma coisa bem maior chamada a nossa liberdade" (Gonzaguinha)



sábado, 2 de outubro de 2010

Música Popular Brasileira - Marisa Monte

     Monte é uma artista de renome, tendo vendido mais de 10 milhões de álbuns, ganhou vários prêmios, incluindo de três Grammy Latino, sete Video Music Brasil, nove Prêmio Multishow de Música Brasileira, cinco APCA e seis Prêmio TIM de Música. Marisa é considerada pela revista Rolling Stone Brasil como a maior cantora do Brasil




Marisa Monte
Não é fácil, não pensar em você
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos, não te encontrar
Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil

Onde você anda, onde está você?
Toda a vez que eu saio me preparo para talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil

Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
O que eu faço? O que eu posso fazer?
Não é fácil, não é fácil

Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz do que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil, é estranho²