domingo, 28 de novembro de 2010

Sentir-se amado - Martha Medeiros

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Esqueça o automóvel

Por que olhar para o interior do carro?
Por que se ninguém lhe pedia para olhar,
Se nada lhe obrigou a fazê-lo,
Se você tinha outra escolha?

E para quê olhar?
Que serventia?
Para matar qualquer que tenha sido a curiosidade
E fazer crescer a minha neurose;
Aumentar ainda mais uma psicose
Que me faz gritar internamente:
- Louca!
E lhe implorar:
- Por favor, nunca mais olhe para dentro do carro.

Mas esqueça o automóvel,
Porque isso nada tem haver com ele.
Toda essa loucura,
Minha loucura,
Trata-se apenas do encontro do seu olhar com o meu,
Que sob o efeito se embeveceu
E se perdeu
No banco de trás do carro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre liberdade

           Nos últimos dias tenho me indagado sobre esperança e felicidade. Casualmente assisti a uma aula de filosofia sobre liberdade e interessei-me pelo assunto a ponto de pesquisá-lo em livros e internet. Fiquei feliz ao encontrar em Marilena Chaui uma síntese das três - esperança, felicidade e liberdade - e aqui transcrevi a parte que mais chamou minha atenção:

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
(Velho tema – Vicente de Carvalho)


O poeta começa dizendo que somente a esperança disfarça a dor de viver e esse disfarce significa que a existência não é senão uma “esperança malograda”, pois esperamos pela hora da felicidade e essa hora nunca chega, é sempre adiada. Mas por que nosso malogro? Por que não obtemos a felicidade?
            Retomando uma imagem da mitologia grega, a árvore do fruto de ouro, inalcançável pelos mortais (e conquistada pelo semideus Hércules), o poeta estabelece um contraste entre o substantivo “pomos”, isto é, frutos, e o verbo “pomos”, isto é, a ação de colocar alguma coisa em algum lugar. Com isso, contrasta a “esperança malograda” de felicidade – a inalcançável “árvore de dourados pomos” – e a felicidade que “existe, sim”, mas que não alcançamos porque “nunca a pomos onde estamos”, embora esteja “sempre apenas onde a pomos”. Nossa alma fica desterrada no sonho, exilada do real, porque incapaz de reconhecer que a felicidade não é a hora sempre adiada, situada num futuro incerto, não é uma árvore distante, posta pelos deuses em algum lugar não localizável do vasto mundo, mas está em nós, em nossa “leve esperança”, em nosso mais vasto coração, dependendo apenas de nós mesmos, “porque está sempre apenas onde a pomos”.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13ª edição. São Paulo: Ática, 2005.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Mente Aberta

Que tipo de reação um simples olhar pode provocar? Quais as sensações que um sorriso pode causar? Parece-me que um simples sorriso causou em mim uma mudança tão grande, que nem lembro quem eu fui antes dela.
Não foi uma mudança externa, mas de valores e idéias pré-concebidas. Da antiga mente quadrada para uma de nova forma, que não habita ângulos retos, nem mesmo vértices.
            Minha mente tomou a forma das minhas novas descobertas, da liberdade de expressão, do grito que vem de dentro e que antes não tinha liberdade para sair.  Ela agora não tem limites; aliás, apenas um, o infinito.